A maneira.

Quando olho pra ele, simplesmente aquela noite vem na minha cabeça tão depressa e com tanta intensidade. O jeito como ele pegou na minha perna e eu, sempre tão preocupada com o que iriam pensar, nem liguei, só me aproximei mais e fiz valer a pena. O jeito engraçado de falarmos bêbados já ajudava mais a situação. O gosto amargo do meu próprio perfume na minha boca, depois de sentir seus lábios intercalando entre meu pescoço e minha boca. O jeito como estávamos próximos e nem sequer sabíamos o nome um do outro, formalmente. O jeito como minhas mãos desciam pelas costas e subiam pra nuca dele, depois meu rosto sentindo a barba bem feita dele. O modo como me prensava entre o corpo dele e o colchão. A forma como tentávamos não fazer barulho pra não acordar ninguém, selvagens já tirando a roupa um do outro. A maneira como a luz da lua iluminava o rosto dele e nossos corpos se movimentavam lentamente com a bebedeira. A maneira como as suas mãos me puxavam pra perto tocando uma música que eu nunca saberia dançar, mas ele sabia. A maneira como a noite parecia infinita, sem antes, sem depois, só agora. O jeito como ele me olhava e parecia estar tão extasiado como eu estava. A maneira como saímos da selvageria do escurinho e quase parecíamos pombinhos apaixonados quando o dia raiou. A forma como me abraçava por trás enquanto a nossa respiração ofegante acalmava-se devagarinho. Como me despedi pedindo mais, esperando que a noite de sábado houvesse continuação. Como passei o dia sem nenhum resquício de arrependimento. E na tarde daquele sábado, novamente, a razão dos meus pensamentos não se aquietarem um segundo, chegou como se nos conhecêssemos a tempos. Enquanto ele agarrava a minha cintura, eu recordava a noite anterior desejando algo mais intenso. Entre copos de cerveja e carteiras de cigarros, da fogueira fomos pra barraca e foi lá que mais uma vez nossos corpos se visitaram. Nunca pensei que nos veríamos de novo, que aquilo aconteceria novamente. Pessoas estão acostumadas a ficar com caras desconhecidos e esquecer disso. Não eu. Qualquer forma de expressão de sentimentos gritantes é realmente algo. Não achei que veria-o de novo, mas esperava que visse. E que quando visse, pudéssemos repetir aquela noite, repetir a dose. Mas quando nos olhamos, eu não sei o que se passava. Seus olhos penetram em mim, mas eu não sei o que pensar. Ele não falou, não nos falamos. Só vivemos a nossa vida talvez tentando ignorar uma noite que aconteceu da maneira errada. Porque pessoas que se apaixonam, geralmente, se conhecem antes de se beijar. E nós dois, bem, era só pra ser um final de semana.